01/03/2007
Editores:
Walter J. Gomes – wjgomes.dcir@epm.br
Domingo M. Braile – domingo@braile.com.br
Prezados Amigos
O Boletim Científico da SBCCV apresenta uma compilação dos mais relevantes artigos publicados nas melhores revistas da especialidade em todo o mundo, abrangendo tópicos de interesse clínico e cirúrgico.
Os artigos são apresentados em forma de resumo comentado e se houver interesse do leitor no artigo completo em formato PDF, este pode ser solicitado no endereço eletrônico brandau@braile.com.br
Ressaltamos que será bem-vindo o envio de artigos de interesse por parte da comunidade de cirurgiões cardiovasculares. Também comentários, sugestões e críticas são estimulados e devem ser enviados diretamente aos editores.
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Publicado os resultados de cinco anos de seguimento do estudo MASS II
Hueb W et al. Five-Year Follow-Up of the Medicine, Angioplasty, or Surgery Study (MASS II). A Randomized Controlled Clinical Trial of 3 Therapeutic Strategies for Multivessel Coronary Artery Disease. Circulation. 2007;115:1082-1089.
O estudo MASS II comparou os resultados do tratamento clínico, cirúrgico e percutâneo em pacientes de baixo risco, com doença arterial coronária de múltiplos vasos com angina estável e função ventricular esquerda preservada.
O estudo compreendeu 611 pacientes, randomizados para tratamento cirúrgico (n=203), clínico (n=203) e percutâneo (n=205), e os desfechos avaliados foram mortalidade total, infarto do miocárdio ou angina refratária requerendo revascularização.
Aos 5 anos de acompanhamento, os desfechos primários foram observados em 21,2% dos pacientes cirúrgicos, 32,7% nos pacientes submetidos a tratamento percutâneo e 36% nos pacientes com tratamento clínico. Não houve diferença estatística na mortalidade total entre os grupos. As incidências de sobrevida livre de eventos foram significativamente diferentes entre os grupos. Pacientes no grupo percutâneo tiveram mais eventos (55,12%) que os do grupo clínico (43,41%) ou cirúrgico (14,63%). A comparação pareada demonstrou não haver diferença entre os grupos percutâneo e clínico.
Necessitaram revascularização adicional 9,4% dos pacientes do grupo clínico, 11,2% do grupo percutâneo e 3,9% do grupo cirúrgico (P=0.021). Adicionalmente, infarto do miocárdio ocorreu em 15,3% dos pacientes no grupo clínico, 11,2% no grupo percutâneo e 8,3% no grupo cirúrgico (P<0,001).
A comparação pareada dos desfechos mostrou que não há diferença de resultados entre o tratamento clínico e percutâneo. Por outro lado, o tratamento cirúrgico teve um significativo efeito protetor quando comparado ao tratamento clínico, com redução de 44% nos desfechos primários.
Este estudo tem capital importância, delineando a efetividade dos métodos de tratamentos na doença arterial coronária crônica de múltiplos vasos em pacientes de baixo risco e servindo como referência para decisão clínica.
A importância destes achados foi comentada em editorial no Circulation, escrito pelo Dr Spencer B. King, III; atualmente um dos mais conceituados cardiologistas dos Estados Unidos da América. Analisando os resultados, sua conclusão é que o trabalho sugere que revascularização pode não ser necessária neste tipo de paciente, mas se houver necessidade, o tratamento cirúrgico é a única terapia que melhora prognóstico.
As diretrizes da Sociedade Européia de Cardiologia para tratamento da doença valvar cardíaca.
Vahanian A, et al. Guidelines on the management of valvular heart disease. The task force on the management of valvular heart disease of the European Society of Cardiology. Eur Heart J 2007; 28:230-268.
A Sociedade Européia de Cardiologia publicou sua primeira diretriz para tratamento da doença valvar cardíaca. Em essência, é muito similar àquela publicada pelas congêneres americanas, e comentada no Boletim Científico 2. Há ligeiras diferenças, principalmente em áreas onde as evidências cientificas são escassas.
A prevalência das doenças valvares está aumentando, devido ao envelhecimento da população. Conseqüentemente, há aumento das doenças degenerativas, como a estenose aórtica e a insuficiência mitral.
Há ênfase na estratificação de risco dos pacientes idosos, já que freqüentemente eles não são considerados candidatos para cirurgia devido somente ao fato de que são idosos. Os riscos operatórios apresentam grande variação e devem ser avaliados individualmente.
Outro ponto discutido é o manejo dos pacientes com doença valvar e que estão assintomáticos, com ênfase no maior uso do teste de esforço para decisão clínica.
Ressalta também a indicação precoce da cirurgia em casos de pacientes com insuficiência mitral assintomáticos, quando há possibilidade de plastia ao invés de troca mitral.
Publicado o estudo COURAGE. O tratamento da doença arterial coronária crônica é drasticamente alterado.
Boden WE, et al. Optimal Medical Therapy with or without PCI for Stable Coronary Disease. Published at www.nejm.org March 26, 2007 (10.1056/NEJMoa070829).
O estudo COURAGE, publicado eletronicamente na revista New England Journal of Mecidine e também apresentado no Congresso do American College of Cardiology, confirma o resultado de estudos anteriores e meta-análises, potencialmente alterando todo o panorama de tratamento da doença arterial coronária crônica.
O estudo COURAGE comparou, em pacientes com doença coronária crônica, a estratégia de angioplastia percutânea com stent convencional mais tratamento clínico otimizado contra o tratamento clínico otimizado somente.
Foram envolvidos 2287 pacientes com doença arterial coronária significativa e evidência objetiva de isquemia miocárdica, em 50 centros dos Estados Unidos e Canadá, e randomizados 1149 para tratamento de angioplastia percutânea mais tratamento clínico otimizado e 1138 pacientes para tratamento clínico otimizado somente. O desfecho primário foi morte e infarto do miocárdio não-fatal durante um período de acompanhamento de 2,5 a 7 anos (média de 4,6 anos).
A grande maioria dos pacientes (95%) tinham evidência objetiva de isquemia miocárdica e doença multi-arterial estava presente em 69% dos pacientes, com apenas 31% tendo doença de vaso único.
A incidência de eventos acumulados foi de 19,0% no grupo angioplastia e 18,5% no tratamento clínico isolado (P=0,62). Não houve diferença entre os dois grupos nos desfechos combinado de morte, infarto do miocárdio e AVC (20,0% vs 19,5%; P=0,62); hospitalização por síndrome coronariana aguda (12,4% vs 11,8%; P=0.56); ou infarto do miocárdio (13,2% vs 12,3%; P=0,33).
Angina foi significativamente reduzida nos dois grupos, não havendo diferença na redução em 5 anos (livre de angina em 74% do grupo angioplastia e 72% do grupo clínico, p = 0,35).
Como conclusão, a estratégia inicial de tratamento de pacientes com doença coronária estável, não há diferença entre o tratamento clínico e a angioplastia com stent.
Embora não tenha sido usado stent farmacológico neste estudo, isto não altera os achados, já que os stents farmacológicos já foram demonstrados não reduzir morte e infarto do miocárdio quando comparado aos stents convencionais.
No editorial acompanhando o estudo, a Dra Judith S Hochman (da New York University School of Medicine) e o Dr P Gabriel Steg (Université Paris, França) relatam que o estudo muda a prática do tratamento da doença arterial coronária, com substancial economia para o sistema de saúde.
Congresso americano vai investigar os estudos com stents farmacológicos.
Heuser S. Boston Globe, March 6, 2007.
Disponível em:
http://www.boston.com/business/globe/articles/2007/03/06/ house_to_scrutinize_marketing_of_stents/
Também disponível em http://www.theheart.org/article/774227.do.
O Comitê de Supervisão e Reforma Governamental do Congresso Americano requereu da Boston Scientific e Johnson & Johnson (fabricantes de stents farmacológicos) informações sobre diversos aspectos associados a esses dispositivos, principalmente segurança e uso off-label.
O deputado do Partido Democrata Henry Waxman, chefe do Comitê, requereu cópias de todos os documentos apresentados no painel do FDA que analisou a segurança dos stents farmacológicos.
Além disso, o documento solicita informação sobre todos os estudos realizados por ambas companhias, incluindo autores e médicos participantes, número de participantes, data de início e fim dos estudos, razões para encerramento precoce, metodologia utilizada, achados e conclusões, financiamento e outros suportes financeiros, pagamentos feitos aos autores, médicos participantes e pacientes.
O deputado Waxman também requereu informação sobre publicações apresentadas em congressos e, principalmente, explicações sobre estudos realizados e não publicados.
Na segunda parte do documento, Boston Scientific e Johnson & Johnson são questionadas sobre indicação do produto, material utilizado em treinamento, educação médica, marketing, segurança e eficiência, assim como material apresentado aos médicos em conferências.
Também está incluído inquérito sobre apresentações internas ou externas relacionadas ao uso off-label dos stents farmacológicos.
O comitê está preocupado sobre as conexões entre os fabricantes e as organizações médicas, principalmente o aspecto de financiamento. Especificamente, cita as entidades Cardiovascular Research Foundation (CRF), Transcatheter Cardiovascular Therapeutics (TCT), and the Society for Cardiovascular Angiography and Interventions (SCAI).
Os documentos e informações solicitadas devem ser enviados até o dia 21 de março de 2007, quando começa a análise desse material.
Os Drs Aaron S. Kesselheim e Michelle M. Mello, da Brigham and Women's Hospital e Harvard School of Public Health, respectivamente, no número de Março/Abril de 2007 da revista Health Affairs, relatam que no passado o FDA geralmente protegia os fabricantes na sua recusa de liberar dados de estudos científicos, considerados como “secretos” e “proteção da propriedade”. Entretanto, eles ponderam que nesse caso essas informações são do mais alto interesse da comunidade médica.
Meta-análise revela que a cirurgia de revascularização miocárdica minimamente invasiva é mais custo-efetiva que angioplastia em lesões isoladas da artéria descendente anterior.
Rao C, et al. Cost effectiveness analysis of minimally invasive internal thoracic artery bypass versus percutaneous revascularisation for isolated lesions of the left anterior descending artery. BMJ 2007;334;621; published online 2 Mar 2007;
Esta meta-análise, publicada no British Medical Journal, analisou comparativamente o custo-benefício entre a cirurgia de revascularização miocárdica minimamente invasiva com uso da artéria torácica interna esquerda e a angioplastia em lesões isoladas da artéria descendente anterior.
Até os 2 primeiros anos após os procedimentos, a angioplastia se mostrou mais custo-efetiva que a cirurgia. Após 3 anos, a cirurgia passou a ser mais efetiva. Aos 5 e 10 anos, a cirurgia permaneceu o procedimento com maior custo efetividade.
Concluem que a cirurgia pode ser mais custo-efetiva em médio e longo-termo que a angioplastia neste tipo de pacientes.
Como ressaltado pelos autores, estes achados têm importante implicação para os pacientes, cardiologistas e planejamento de serviços de saúde.
Análise de custo-benefício em pacientes com angina pectoris revela que a cirurgia de revascularização miocárdica é a mais eficiente.
Griffin SC, et al. Cost effectiveness of clinically appropriate decisions on alternative treatments for angina pectoris: prospective observational study. BMJ 2007;334;624-; published online 5 Mar 2007;
Este estudo, também publicado no British Medical Journal, avaliou comparativamente qual tipo de revascularização é mais custo-efetiva, em pacientes considerados como apropriadamente tratados quanto ao método de revascularização.
O estudo foi conduzido em hospitais de atendimento terciário do National Health Service (NHS), em Londres, na Inglaterra, analisando custo e efetividade em 1720 pacientes.
A cirurgia de revascularização miocárdica foi considerada custo-efetiva nos pacientes com indicação apropriada. A angioplastia foi considerada não ter efetividade para justificar o custo, sendo preferível o tratamento clínico nos pacientes que tenham indicação para angioplastia.
Resultados de cinco anos de seguimento após cirurgia de revascularização miocárdica com e sem circulação extracorpórea.
van Dijk D, et al. Cognitive and cardiac outcomes 5 years after off-pump vs on-pump coronary artery bypass graft surgery. JAMA. 2007;297(7):701-8.
Este artigo analisou pacientes incluídos no estudo Octopus, para comparar os resultados de eventos cardiovasculares e disfunção cognitiva após cinco anos de cirurgia de revascularização miocárdica com e sem uso de circulação extracorpórea (CEC).
Este estudo, realizado entre 1998 e 2000, teve 281 pacientes de baixo risco randomizados incluidos, 142 operados sem CEC e 139 operados com CEC.
Após cinco anos, 130 pacientes de cada grupo estavam vivos. No grupo sem CEC, 21,1% dos pacientes tiveram eventos cardiovasculares e 18,0% no grupo com CEC (p=0,55). Não houve diferença entre os grupos em relação a ocorrência de angina ou qualidade de vida. Também não houve diferença de disfunção cognitiva entre os grupos no período de seguimento.
Os autores concluem que em pacientes de baixo risco submetidos a cirurgia de RM com e sem CEC, não houve diferença em cinco anos em relação a ocorrência de eventos cardiovasculares ou disfunção cognitiva.
Meta-análise apresentada no Congresso Mundial de Cardiologia de Barcelona é publicada.
Camenzind E, et al. Stent thrombosis late after implantation of first-generation drug-eluting stents: a cause for concern. Circulation. 2007;115(11):1440-55.
O estudo de Camenzind et al, a meta-análise dos resultados comparativos de stents farmacológicos e convencionais que provocou calorosas discussões sobre os riscos da nova geração de stents, foi publicada este mês na revista Circulation.
Desta análise, os autores concluem que mortalidade por todas as causas e infarto do miocárdio foi 60% mais elevado em pacientes que receberam stents recobertos com sirolimus (Cypher) do que em pacientes tratados com stents convencionais (6,26% vs 3,91%; p=0,03). O risco de trombose do stent Cypher variou de 2% a 3,4% ao ano, enquanto que no stent recoberto com paclitaxel (Taxus) este efeito teve menor amplitude.
Registro CARE. Estudo comparativo observacional de cirurgia de revascularização miocárdica com e sem circulação extracorpórea.
Palmer G, et al. Coronary Artery Revascularization (CARE) Registry: An Observational Study of On-Pump and Off-Pump Coronary Artery Revascularization. Ann Thorac Surg 2007;83:986-992
O estudo CARE é um registro observacional multicêntrico de cirurgia de revascularização miocárdica e neste trabalho foi analisado os resultados comparativos das técnicas com e sem CEC. O estudo envolveu oito hospitais localizados no sul e oeste dos Estados Unidos e coletou dados de 1251 pacientes, 654 (52,3%) operados com CEC e 597 (47,7%) operados sem CEC.
A mortalidade operatória foi a mesma nos dois grupos (1,7% vs 1,7%), assim como a incidência de AVC e o número de pontes foi 3,4 ± 1 no grupo com CEC versus 2,9 ± 1,2 no grupo sem CEC (p < 0,001).
O grupo com CEC apresentou, em relação ao sem CEC, maior reoperação por sangramento, 2,6% versus 1,0% (p=0,037); tempo de ventilação mecânica mais prolongada, 10,0 versus 3,4 (p < 0,001); maior incidência de fibrilação atrial, 23,8% versus 14,9% (p < 0,001); maior necessidade de transfusão sangüínea, 51,0% versus 34,9% (p < 0,001); maior permanência hospitalar, 7,5 dias versus 6,2 dias (p < 0,001). Aos 12 meses de seguimento, não houve diferença na mortalidade cardíaca, infarto do miocárdio, necessidade de nova revascularização ou incidência de eventos cardíacos maiores.
Este estudo mostra que, embora a mortalidade seja a mesma, há redução das complicações peri-operatórias na técnica sem CEC.
Resultados de longo-prazo do estudo ICTUS. Não há benefício da intervenção precoce na síndrome coronariana aguda sem elevação de ST.
Hirsch A, et al. Long-term outcome after an early invasive versus selective treatment strategy in patients with n-ST-elevation acute coronary syndrome and elevated cardiac troponin T (the ICTUS trial): a follow-up study. Lancet 2007; 369:827-35.
O estudo ICTUS comparou o tratamento da síndrome coronariana aguda (SCA) sem elevação do segmento ST e aumento de troponina em 1200 pacientes randomizados para 2 grupos: um grupo em que foi feito cateterismo precoce e revascularização e outro em que foi realizado estratégia seletiva, onde cateterismo foi feito somente se o paciente tinha angina refratária ou isquemia recorrente. No trabalho atual, foram analisados os resultados de seguimento de quatro anos, e os desfechos estudados foram morte, recorrência de infarto do miocárdio ou re-internação por sintomas anginosos.
O índice acumulado de desfechos combinados foi de 30% no grupo de intervenção precoce e 26% no grupo de intervenção seletiva (p=0,09). Infarto do miocárdio foi mais freqüente no grupo de intervenção precoce (18,3% vs 12,3%; p=0,002). Mortalidade de todas as causas e cardiovascular não diferiu entre os grupos.
Na interpretação desses dados, o estudo sugere que a estratégia de intervenção precoce poderia não ser melhor que a estratégia seletiva em pacientes com SCA sem elevação de ST e que ambas poderiam ser aceitáveis nesse grupo de pacientes.
Impacto da desproporção (“mismatch”) entre o tamanho da prótese mitral implantada com a superfície corpórea na sobrevida em longo-prazo.
Magne J, et al. Impact of Prosthesis-Patient Mismatch on Survival After Mitral Valve Replacement. Circulation. 2007;115:1417-25
Os autores avaliaram em 929 pacientes submetidos a troca de valva mitral o impacto na sobrevida advindo da relação do tamanho da prótese implantada (área efetiva do orifício valvar) com a área de superfície corpórea. Os pacientes foram divididos em desproporção leve (relação entre área efetiva do orifício valvar/área de superfície corpórea) se > 1,2 cm2/m2, moderada se >0,9 and <= 1,2 cm2/m2 e grave se <= 0,9 cm2/m2.
Em pacientes com desproporção grave, a sobrevida em 6 e 12 anos foi significativamente inferior quando comparado aos pacientes com desproporção leve e moderada. Na análise multivariada, desproporção grave foi associada com aumento de mortalidade.
Os autores concluem que a desproporção grave é um preditor independente de mortalidade após cirurgia de troca valvar e esforços devem ser feitos para implantar próteses com área efetiva do orifício valvar adequados.
Painel do FDA requer mais estudos para avaliar o uso de oclusores de forame oval patente.
Wood S. No shortcuts: FDA panel says PFO occluders must prove themselves in RCTs, no matter how long it takes. Disponível em: http://www.theheart.org/article/773931.do.
A reunião do Painel de Dispositivos do Sistema Circulatório do FDA, reunido em 2 de março de 2007, deliberou que há necessidade de mais estudos para a utilização de oclusores de forame oval patente para tratamento de acidente vascular cerebral (AVC) criptogênico. Isso significa mais estudos randomizados prospectivos terão que ser realizados antes de uma decisão sobre a aprovação do dispositivo.
Os estudos até agora realizados incluíram poucos pacientes, que forneceram informações não conclusivas de que esses dispositivos são superiores ao tratamento clínico para prevenir AVC criptogênico.
Segundo o Dr Richard E Ringel, da Johns Hopkins University e membro do painel do FDA, uma das principais razões para esta decisão foi o abuso da utilização do dispositivo.
As metas para os próximos estudos neste campo devem enfocar dois propósitos: estabelecer prova de conceito, isto é, que a oclusão do forame oval patente reduz incidência de AVC e testar a efetividade individual dos diferentes dispositivos no fechamento efetivo do forame oval patente.
Registro SCAAR. Resultados em longo-prazo com stents farmacológicos e convencionais na Suécia.
Lagerqvist B, et al. Long-Term Outcomes with Drug-Eluting Stents versus Bare-Metal Stents in Sweden. N Engl J Med. 2007;356:1009-19.
Este estudo, chamado SCAAR e que incluiu todos os pacientes tratados com stents na Suécia entre 2003 e 2004, avaliou o risco de trombose dos stents farmacológicos, comparado aos stents convencionais. Usando dados do Registro Sueco de Angiografia e Angioplastia, foram analisados 6.033 pacientes tratados com stents farmacológicos e 13.738 pacientes tratados com stent convencional, com os desfechos de morte e infarto do miocárdio. Aos 6 meses de seguimento, houve uma tendência de menor índice de eventos no grupo de stent farmacológico. Entretanto, após 6 meses, pacientes com stents farmacológicos tiveram um significativo índice de eventos, com 12,7 mais eventos por 1.000 pacientes.
Aos 3 anos de seguimento, a mortalidade foi significativamente maior no grupo do stent farmacológico.
Os autores concluem que os stents farmacológicos foram associados com aumento de mortalidade, quando comparado ao stent convencional. Essa tendência foi aparente após 6 meses, quando o risco de morte foi 0,5% maior e o desfecho composto de morte e infarto foi 0,5 a 1,0% maior por ano.
Estes achados reforçam a necessidade de mais estudos randomizados para certificação dos riscos e benefícios dos stents farmacológicos, já que os estudos anteriores não tiveram poder estatístico para detectar diferenças em mortalidade ou outro evento clínico relevante. Para essa análise, seriam necessários estudos que incluíssem entre 8000 e 12000 pacientes.
Benefícios do uso de enxertos bilaterais de artéria torácica interna em 20 anos de seguimento.
Scott Rankin J,et al.Techniques and Benefits of Multiple Internal Mammary Artery Bypass at 20 Years of Follow-Up. Ann Thorac Surg 2007;83:1008-1015
Neste estudo foi avaliado os resultados em longo-prazo (20 anos de seguimento) de dois tipos de configurações de uso dos enxertos de artéria torácica interna (ATI) em cirurgia de revascularização miocárdica (RM).
Operados entre 1984 e 1986, foram comparados 490 pacientes com uso de enxerto único de ATI com 377 pacientes operados com uso de ATI bilateral. Os enxertos bilaterais de ATI geralmente foram direcionados para as duas artérias coronárias mais dominantes.
Com seguimento de 20 anos, o desfecho composto de morte, infarto do miocárdio, necessidade de reoperação ou angioplastia adicional foi significativamente menor no grupo com uso de enxerto bilateral do que no grupo com ATI única.
Quando se comparou dentro do grupo de ATI bilateral a tática operatória de revascularizar artéria descendente anterior (DA)/circunflexa com DA/coronária direita, não houve diferença nos desfechos combinados, resultando em igual eficiência.
Como conclusão, os autores reforçam que estes dados confirmam os benefícios clínicos tardios do uso do enxerto bilateral de ATI no tratamento cirúrgico da doença arterial coronária de múltiplos vasos.
Próteses valvares mecânicas tem performance semelhante em longo-prazo.
Bryan AJ,et al.Prospective randomized comparison of CarboMedics and St. Jude Medical bileaflet mechanical heart valve prostheses: Ten-year follow-up. J Thorac Cardiovasc Surg 2007;133:614-622.
Neste estudo randomizado controlado foi comparado a performance das próteses mecânicas de duplo folheto CarboMedics (CarboMedics Inc., Austin, Tex) e St. Jude Medical (St. Jude Medical Inc, St Paul, Minn) dez anos após a cirurgia de troca valvar.
Entre 1992 e 1996 foram randomizados 485 pacientes para receber CarboMedics (n = 234) ou St. Jude Medical (n = 251) nas posições aórtica (n = 288), mitral (n = 160), ou dupla (n = 37).
A sobrevida em 10 anos foi 66,4% no grupo CarboMedics e 64,7% no grupo St. Jude (P = 0,94). Não houve diferença significativa ente os grupos com respeito a complicações (tromboembolismo e eventos hemorrágicos).
Os autores concluem que os resultados clínicos entre as duas próteses mecânicas de duplo folheto foram similares.
Publicada a análise Bern-Rotterdan: O risco de trombose do stent farmacológico persiste em longo-prazo.
Daemen J, et al. Early and late coronary stent thrombosis of sirolimus-eluting and paclitaxel-eluting stents in routine clinical practice: Data from a large two-institutional cohort study. Lancet 2007; 369: 667-678.
O estudo Bern-Rotterdan analisou as incidências de trombose tardia (> 30 dias) de stent farmacológico nos registros SIRTAX e post-SIRTAX em Berna e os registros RESEARCH e T-SEARCH em Roterdã. Foram estudados 8146 pacientes submetidos a implante de stent revestido com sirolimus (Cypher), n=3823; e com paclitaxel (Taxus) n=4323.
A incidência de trombose de stent angiograficamente documentada foi de 2,9% aos 3 anos de seguimento. Ocorreu com uma taxa constante de 0,6% ao ano até 3 anos de seguimento. A incidência foi maior no stent Taxus (1,8%) do que no Cypher (1,4%; p=0,031).
Este estudo reforça que a taxa de trombose com stent farmacológico é mantida no seguimento tardio, sendo ainda indeterminado o resultado em mais longo termo. Sugere também que a taxa deve ser maior que a reportada, já que apenas as tromboses angiograficamente documentadas foram reportadas.
Tratamento da doença periodontal pode melhorar a função endotelial.
Tonetti MS, et al. Treatment of periodontitis and endothelial function. N Engl J Med 2007; 356:911-20.
Este estudo demonstra que o tratamento da doença periodontal pode melhorar a função endotelial. A doença periodontal conduz a um processo inflamatório continuado de baixa intensidade, resultando em disfunção endotelial e vascular.
A periodontite é infecção crônica dos tecidos ao redor dos dentes e tem sido demonstrado que está associada a níveis elevados de proteína C-reativa e outros marcadores inflamatórios, maior incidência de aterosclerose e risco aumentado de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral.
O tratamento da periodontite pode reduzir a inflamação local e sistêmica, diminuindo o risco de eventos cardiovasculares.
Esse estudo mostrou que a melhora da higiene bucal assim como tratamento agressivo da periodontite permitiu a redução dos marcadores inflamatórios e melhora da função endotelial.
Recomendação da American Heart Association (AHA) desestimula uso de antiinflamatórios em pacientes com doença cardíaca.
Antman EM, et al. Use of Nonsteroidal Antiinflammatory Drugs. An Update for Clinicians. A Scientific Statement From the American Heart Association. Circulation 2007, doi: 10.1161 / CIRCULATIONAHA.106.181424
A nova recomendação emitida pela AHA desestimula os médicos de prescreverem antiinflamatórios (tanto os tradicionais não-esteróides assim como os inibidores da COX-2) a pacientes com ou em alto risco de doença coronária. Esta recomendação está baseada nas evidências cientificas de que em geral os antiinflamatórios aumentam o risco de infarto do miocárdio e AVC. Os autores do documento ressaltam que os médicos têm que mudar a maneira como prescrevem remédios para alívio de dor. Essas drogas devem constituir a ultima opção de tratamento nesta condição.
A recomendação é que os médicos comecem o tratamento da dor com medidas não farmacológicas, como fisioterapia e exercício, redução de peso para diminuir o estresse nas articulações, e terapia com calor ou frio local. Caso essas medidas não forem eficientes na redução da dor, deve ser considerado inicialmente o uso de paracetamol, aspirina ou mesmo analgésicos narcóticos em baixas doses e por tempo curto. Em caso de necessidade de alívio sintomático maior, o próximo passo pode incluir inibidores da COX-2. Essas drogas devem ser usadas na menor dose possível para alívio do sintoma e pelo tempo mais curto.
As informações de meta-análises mostram que os inibidores de COX-2 aumentam o risco relativo de infarto do miocárdio em 86%, os antiinflamatórios tradicionais, diclofenaco e ibuprofen, também aumentam o risco. Mesmo o naproxen deve ser usado com cuidado, já que poucos estudos incluíram este medicamento.
Estudo randomizado controlado sobre os efeitos do alho não revela benefícios.
Gardner CD, et al. Effect of raw garlic versus commercial garlic supplements on plasma lipid concentrations in adults with moderate hypercholesterolemia. Arch Int Med 2007; 167:346-353
Este estudo randomizado controlado, financiado pelo NIH (National Institutes of Health), revelou que o alho não tem efeito sobre a redução do colesterol.
Há muito tempo era especulado e mesmo arraigado em crendices populares de que o alho seria capaz de diminuir os níveis de colesterol. Seria uma forma natural e barata de tratar essa condição.
Entretanto, esse estudo revelou que não houve diferença do grupo tratado com alho em relação a colesterol total, HDL e triglicérides, em comparação ao grupo controle.
Os autores enfatizam que o estudo pode não ter avaliado outros potenciais efeitos cardiovasculares do alho, e outros estudos podem ser necessários.