01/04/2007
Editores:
Walter J. Gomes – wjgomes.dcir@epm.br
Domingo M. Braile – domingo@braile.com.br
Prezados amigos
O Boletim Científico da SBCCV apresenta uma compilação dos mais relevantes artigos publicados nas melhores revistas da especialidade em todo o mundo, abrangendo tópicos de interesse clínico e cirúrgico.
Os artigos são apresentados em forma de resumo comentado e se houver interesse do leitor no artigo completo em formato PDF, este pode ser solicitado no endereço eletrônico brandau@braile.com.br
Ressaltamos que será bem-vindo o envio de artigos de interesse por parte da comunidade de cirurgiões cardiovasculares. Também comentários, sugestões e críticas são estimulados e devem ser enviados diretamente aos editores.
Para pedido do artigo na íntegra - brandau@braile.com.br
Dez anos de seguimento do estudo BARI mostra que os resultados iniciais permanecem válidos.
BARI investigators. The final 10-year follow-up results from the BARI randomized trial. J Am Coll Cardiol 2007; 49:1600-1606.
O estudo BARI comparou os resultados de pacientes com doença coronária multiarterial sintomáticos, submetidos a tratamento cirúrgico ou angioplastia por balão. Nesta publicação são analisados os 10 anos de seguimento, já que as publicações anteriores tinham examinado os resultados em cinco e sete anos de seguimento.
A sobrevida em 10 anos foi de 71% no grupo da angioplastia e 73,5% no grupo cirúrgico (p=0,18), o grupo angioplastia teve maior índice de procedimentos adicionais de revascularização que o cirúrgico (76,8% vs. 20,3%, p < 0,001), mas os índices de angina nos dois grupos foram similares.
No grupo de pacientes diabéticos multiarteriais tratados, o tratamento cirúrgico esteve relacionado com maior sobrevida (angioplastia 45,5% vs cirurgia 57,8%, p = 0,025). Neste grupo, os pacientes que receberam pelo menos um enxerto arterial tiveram 64,3% de sobrevida em 10 anos, comparado com 39,4% dos pacientes cirúrgicos que receberam enxertos venosos apenas e 45,5% dos pacientes com angioplastia.
De interesse adicional, no grupo de pacientes diabéticos não-tratados, não houve benefício de sobrevida com a cirurgia, ressaltando a necessidade de tratamento agressivo dessa condição.
Qualidade de vida em pacientes com doença coronária multiarterial sintomática. Resultados do estudo MASS II.
Favarato ME et al. Quality of life in patients with symptomatic multivessel coronary artery disease: A comparative post hoc analyses of medical, angioplasty or surgical strategies-MASS II trial. Int J Cardiol 2007; 116:364-70.
Este subestudo do MASS-II avaliou o impacto da intervenção (cirúrgica, angioplastia ou tratamento clínico) na qualidade de vida dos pacientes com doença coronária estável.
Um total de 542 pacientes foram aleatoriamente referidos para tratamento cirúrgico (175 pacientes), angioplastia (180) e tratamento clínico (187) e avaliados na admissão, com 6 e 12 meses de seguimento.
Todas as três estratégias terapêuticas apresentaram melhora significativa durante o seguimento (P<0,0001). Entretanto, o grupo cirúrgico foi o que apresentou a melhora mais importante e significativa nas funções físicas e sociais, vitalidade, e saúde geral, quando comparado aos tratamentos clínico e angioplastia.
Intervenção na fase aguda do infarto do miocárdio após trombólise: comparação entre cirurgia e angioplastia.
Nicolau JC et al. A comparison of percutaneous coronary intervention and surgical revascularization after fibrinolysis for acute myocardial infarction. Insights from the InTIME-2 trial. Int J Cardiol. 2007;116(3):383-8.
Uma parte substancial dos pacientes tratados com fibrinolíticos na fase aguda do infarto agudo do miocárdio (IAM) é subseqüentemente submetida a tratamento de revascularização cirúrgica (RM) ou percutânea (ICP) durante a mesma internação hospitalar. Dados comparativos dessas duas terapias nesta condição são escassos na literatura, daí a importância desse estudo, uma parte do trial InTIME-2, e que analisou os resultados de revascularização cirúrgica ou percutânea em pacientes na fase hospitalar do IAM. Foram estudados 3532 pacientes submetidos à RM e 2958 pacientes onde foi realizado ICP. Foram comparados mortalidade (em 30 dias e 1 ano) e eventos não-fatais (re-infarto, necessidade adicional de revascularização e re-internação por evento isquêmico). Não houve diferença significativa em mortalidade entre os grupos em 30 dias e 1 ano, mas os eventos combinados fatais e não fatais não-ajustados foram 10,3% no grupo cirúrgico e 15,3% no grupo percutâneo (odds-ratio 0,64, P=0,0017), com p=0,048 quando ajustados.
Os autores concluem que os índices de mortalidade entre RM e ICP foram similares até um ano após o IAM, mas a cirurgia tendeu a produzir melhor sobrevida livre de eventos em 30 dias.
Polêmica sobre o risco de interrupção do clopidogrel chega aos urologistas.
Stephen Jones J. Urologists: Be aware of significant risks to stopping anticoagulants in patients with drug-eluting coronary stents. BJU International (OnlineEarly Articles).
doi:10.1111/j.1464-410X.2007.06858.x
Em editorial publicado no periódico British Journal of Urology International, o dr J. Stephen Jones, vice-chairman da Glickman Urological Institute da Cleveland Clinic Foundation, discorre sob os riscos de anticoagulantes na pratica urológica, ponderando que warfarin e aspirina acarretam pouco risco de sangramento em operações urológicas e que sua manutenção permanece uma rotina relativa na prática clínica.
Em contraste, os novos agentes anti-plaquetários como o clopidogrel e ticlopidina criam um severo risco de sangramento mesmo em operações simples como biópsia prostática ou de bexiga e outros procedimentos de aparente mínima invasividade urológica. Cita os casos de sangramentos graves e intratáveis após procedimentos cirúrgicos menores, mesmo depois de 10 dias de interrupção desses novos agentes anti-plaquetários.
O autor comenta que até recentemente havia pouca evidência de risco substancial da interrupção temporária de anticoagulantes tradicionais durante procedimentos menores. Entretanto, pacientes com doença arterial coronária tratado com stents farmacológicos apresentam um novo e inusitado desafio para os urologistas, já que em estudos post-marketing o risco de oclusão trombótica do dispositivo foi significativamente maior que nos estudos clínicos iniciais, com mortalidade de quase 50% no evento de oclusão do stent.
Adverte que o risco de oclusão do stent precisa ser pesado contra o risco de adiar a biópsia ou outro procedimento proposto, e antecipa que este dilema será lugar comum na prática urológica daqui para gente. Pondera que uma abordagem multidisciplinar para pacientes com stents farmacológicos será essencial e deve envolver o cardiologista responsável.
Eficiência da cirurgia para tratamento da insuficiência aórtica com disfunção ventricular esquerda grave.
Bhudia SK et al. Improved outcomes after aortic valve surgery for chronic aortic regurgitation with severe left ventricular dysfunction. J Am Coll Cardiol 2007;49:1465-1471.
Pacientes com insuficiência aórtica crônica e grave comprometimento da função ventricular esquerda são considerados de alto risco para cirurgia de troca valvar aórtica e com prognóstico reservado em longo-prazo. Este estudo comparou em pacientes com e sem disfunção ventricular esquerda submetidos à troca valvar aórtica por insuficiência valvar crônica a sobrevida em longo-prazo e a identificação dos fatores de risco. Entre 1972 e 1999, 724 pacientes foram operados e 88 (12%) tinham disfunção ventricular esquerda grave, alguns com indicação para transplante cardíaco. Os grupos com disfunção leve/moderada e grave foram comparados. A sobrevida foi menor no grupo com disfunção grave do VE, mas melhorou significativamente durante o período de estudo: a mortalidade hospitalar caiu de 50% em 1975 para 0% após 1985. Também após 1985, a sobrevida dos pacientes com disfunção ventricular grave foi equivalente a dos pacientes com disfunção leve/moderada. Os autores concluem que o manejo dos pacientes com disfunção ventricular grave melhorou a sobrevida e a troca valvar aórtica em pacientes com insuficiência aórtica crônica e cardiomiopatia associada não pode ser mais considerado um procedimento de alto risco, num grupo onde o transplante cardíaco parecia ser a melhor opção de tratamento.
Divulgação ao público dos resultados de cirurgia cardíaca está ligada à redução da mortalidade.
Bridgewater B et al. Has the publication of cardiac surgery outcome data been associated with changes in practice in Northwest England? An analysis of 25,730 patients undergoing CABG surgery under 30 surgeons over 8 years. Heart, Jan 2007; doi:10.1136/hrt.2006.106393.
Este intrigante estudo analisou os resultados de mortalidade na cirurgia cardíaca no Reino Unido, antes e após a resolução que estabeleceu a divulgação pública da performance (corrigidos por escores de risco) individual dos cirurgiões e dos centros de cirurgia cardíaca.
A pesquisa revelou uma redução significativa da mortalidade cirúrgica após o inicio da fase em que os resultados começaram a vir a público, apesar do aumento do numero de pacientes de alto risco operados neste período (p<0.001).
O decréscimo de mortalidade foi de 2,4% em 1997/98 para 1,8% em 2004/2005 (p=0,014). A mortalidade esperada no período (medida pelo EuroSCORE) aumentou de 3,0 para 3,5, fazendo com que a razão entre mortalidade observada/mortalidade esperada diminuísse de 0,8 para 0,51 (p<0,05).
Os autores concluem que a publicação dos dados de mortalidade de cirurgia cardíaca no Reino Unida foi associado com significativa redução dessa mortalidade, ajustada pelo risco.
Os autores ressaltam o interesse em estudar as tendências nas outras formas de terapia da doença arterial coronária crônica, já que apenas a cirurgia passa pelo crivo rígido dessa análise.
Melhora da qualidade de vida e classe funcional após cirurgia de reconstrução ventricular esquerda.
Sartipy U et al. Improved Health-Related Quality of Life and Functional Status After Surgical Ventricular Restoration. Ann Thorac Surg 2007;83:1381-1387.
Tem sido demonstrados que a cirurgia de reconstrução ventricular esquerda melhora o estado hemodinâmico e a sobrevida em pacientes com doença arterial coronária, aneurisma de ventrículo esquerdo (VE) e insuficiência cardíaca. Este estudo avaliou o estado funcional e qualidade de vida após cirurgia de reconstrução ventricular esquerda.
Vinte e três pacientes com aneurisma de VE e disfunção ventricular esquerda grave foram avaliados no pré-operatório e em 6 meses de pós-operatório.
Não houve mortalidade operatória, antes da cirurgia 17 pacientes (74%) estavam em classe funcional (CF) III a IV e, seis meses após a cirurgia, 20 pacientes (87%) estavam em CF I e II (p < 0,001). No seguimento tardio de 22 meses pós-operatório, todos os pacientes vivos (n=20) estavam em CF I e II. O teste de caminhada de 6 minutos aumentou de 41 metros (p = 0,06) em 6 meses de pós-operatório e de 57 metros (p = 0,03) no seguimento tardio.
Qualidade de vida melhorou significantemente em 6 meses de pós-operatório, aspectos físicos e mentais tiveram melhora significativa e clinicamente relevante no seguimento tardio.
Os autores concluem que o estado funcional e qualidade de vida dos pacientes têm significativa melhora após a cirurgia de reconstrução de ventrículo esquerdo, que se mantém até o seguimento de quase dois anos.
Uso e validade de desfechos compostos em estudos cardiovasculares é questionado.
Ferreira-González I et al. Problems with use of composite end points in cardiovascular trials: systematic review of randomised controlled trials. BMJ 2007;334:786 .
O uso de desfechos compostos (composite endpoints) em estudos (trials) cardiovasculares pode exagerar o impacto do tratamento, conforme o resultado dessa análise publicada no British Medical Journal.
Isso decorre da variação da importância para o paciente dos componentes individuais do desfecho composto, onde desfechos importantes, como morte e infarto do miocárdio, são analisados junto com outros desfechos menos importantes, atenuando o real impacto adverso da terapia e exagerando o efeito benéfico.
Na realidade, desfechos compostos têm o objetivo de aumentar o índice de eventos e conseqüentemente o poder estatístico do estudo. Mas esse fato pode ser confundido, principalmente se os componentes do desfecho composto forem de importância clínica totalmente diferentes. Os autores realizaram uma revisão sistemática de estudos randomizados controlados publicados nas melhores revistas entre 2002 e 2003.
Entre os vários achados, observaram que dos estudos que mostraram um efeito estatisticamente significativo do tratamento, apenas uma minoria alcançava significância estatística quando somente os componentes de maior importância (fatais, críticos e maiores) eram considerados. Além disso, omitiam dados dos desfechos individuais.
Os autores advertem que médicos e pacientes são bem informados quando os estudos restringem o uso de desfechos compostos para aqueles de importância comparável e similar, senão arriscam a enganar o público leitor.
No editorial acompanhando o artigo, os doutores Nick Freemantle e Mel Calvert, da Universidade de Birmingham, comentam que o sistema atual de regulação de drogas e dispositivos encoraja o uso de desfechos compostos, adicionando o evento morte a estes desfechos e confundindo os achados. Recomendam tornar claro os dados individuais de cada desfecho no efeito do tratamento.
Comparação de valvoplastia mitral com anéis rígidos ou flexíveis. Estudo prospectivo randomizado.
Byung-Chul C et al. Long-term clinical results of mitral valvuloplasty using flexible and rigid rings: A prospective and randomized study. J Thorac Cardiovasc Surg 2007;133:995-1003.
Anéis rígidos e flexíveis têm sido usados para reparo da valva mitral, os anéis rígidos podem causar disfunções sistólicas menores enquanto os anéis flexíveis interferem menos com os movimentos do ânulo mitral durante o ciclo cardíaco.
Neste estudo, 363 pacientes submetidos a valvoplastia mitral foram randomizados para receber anel rígido de Carpentier (n=186) e anel flexível de Duran (n=170). Os pacientes foram seguidos em média por 46,6 meses de pós-operatório. Os diâmetros sistólico e diastólico final de VE e o tamanho do átrio esquerdo diminuíram em ambos os grupos, e não houve diferença de parâmetros ecocardiográficos em longo-prazo entre eles. A sobrevida comparada entre os dois grupos também não mostrou diferença estatisticamente significativa.
Os autores concluem que não houve diferença de parâmetros de função ventricular esquerda em longo-termo e sobrevida entre os dois tipos de anéis utilizados para plastia mitral.
Impacto da fibrilação atrial pré-operatória na sobrevida após cirurgia de reparo da valva mitral na insuficiência mitral degenerativa.
Alexiou C et al. The effect of preoperative atrial fibrillation on survival following mitral valve repair for degenerative mitral regurgitation. Eur J Cardiothorac Surg 2007;31:586-591.
Ainda há evidências conflitantes com respeito ao impacto da fibrilação atrial (FA) pré-operatória nos resultados imediatos e tardios após cirurgia de reparo de valva mitral.
Este estudo avaliou 349 pacientes submetidos a vários procedimentos de reparo mitral, no pré-operatório 152 (44%) desses pacientes estavam em FA e 197 (56%) pacientes estavam em ritmo sinusal (RS).
No estudo comparativo, os pacientes no grupo FA eram mais idosos (66 ± 7 vs 62 ± 9 years) (p = 0,01), estavam em classe funcional mais avançada (2.4 ± 0.6 vs 2.2 ± 0.7) (p = 0,04) e tinham pior função ventricular esquerda (60% vs 36%) (p < 0,0001).
A mortalidade operatória foi 3,9% no grupo FA vs 0,5% no grupo RS. A curva de sobrevida Kaplan Méier aos 7 anos foi 75 ± 6% no grupo FA versus 90 ± 3% no grupo RS (p = 0,005). Os preditores adversos de sobrevida foram disfunção ventricular esquerda e FA.
Este estudo claramente revelou que em pacientes submetidos à cirurgia de reparo da valva mitral, a presença de FA pré-operatória tem grande impacto na sobrevida imediata e tardia.
Comparação dos métodos de corte-e-sutura versus ablação por radiofreqüência na operação de Cox.
Stulak JM et al. Superiority of cut-and-sew technique for the Cox maze procedure: Comparison with radiofrequency ablation. J Thorac Cardiovasc Surg 2007;133:1022-1027.
Este estudo objetivou avaliar a eficiência da ablação por radiofreqüência (RF) comparada à técnica de cortar-e-suturar (CS) na operação de Cox para fibrilação atrial (FA) em 56 pacientes em cada grupo.
As variáveis pré-operatórias foram comparáveis nos dois grupos, incluindo classe funcional, tipo e duração da FA e tamanho do átrio esquerdo.
Pacientes livres de FA foram significativamente menor no grupo RF, tanto na alta hospitalar (63% vs 88%; P = 0,0039) como no seguimento de longo-prazo (62% vs 92%; P = 0,016).
De acordo com a regressão logística efetuada, os pacientes submetidos à RF tiveram 4,5 vezes mais tendência a estar em FA na alta hospitalar e 5 vezes mais tendência no seguimento tardio.
Os autores concluem que o uso de RF é associado com menor chance dos pacientes estarem livres da FA, tanto no período imediato quanto tardio do pós-operatório. Como a trans-muralidade é assegurada na técnica CS, esta permanece o padrão-ouro para a cirurgia de tratamento da FA.
Comparação do método clássico da cirurgia de Maze III com a operação por radiofreqüência no tratamento da fibrilação atrial.
Doty JR et al. Comparison of standard Maze III and radiofrequency Maze operations for treatment of atrial fibrillation. J Thorac Cardiovasc Surg 2007;133:1037-1044.
Este estudo comparou a operação clássica de Maze III (MC) com a variante menos complexa do Maze III utilizando radiofreqüência (RF) com isolamento das veias pulmonares.
No total, 377 pacientes foram estudados, MC realizado em 220 pacientes e RF em 157.
O numero de pacientes livres de FA em 6 meses foi superior no grupo MC comparado com o RF (P = 0,0078).
Os autores concluem que a operação de MC é superior à RF no tratamento da FA. Apesar disso, RF também é efetiva no tratamento da FA.
Uso de corticóide pode prevenir o aparecimento de fibrilação atrial após cirurgia cardíaca.
Halonen J et al. Corticosteroids for the prevention of atrial fibrillation after cardiac surgery: a randomized controlled trial. JAMA. 2007;297(14):1562-7.
A fibrilação atrial (FA) é a arritmia mais comum após cirurgia cardíaca e uma resposta inflamatória aumentada tem sido proposta para explicar a etiologia. Neste contexto, o corticóide poderia ter efeito atenuador no aparecimento dessa arritmia após cirurgia cardíaca.
Este estudo randomizado, duplo-cego e multicentrico recrutou 241 pacientes consecutivos e sem FA prévia submetidos à cirurgia cardíaca com CEC. Foram randomizados para receber 100 mg de hidrocortisona ou placebo. Todos os pacientes receberam também metoprolol (50-150 mg/dia)
A incidência de FA no pós-operatório foi menor no grupo da hidrocortisona (36/120 [30%]) do que no grupo placebo (58/121 [48%]); P = 0,004. A hidrocortisona reduziu em 37% o risco relativo de FA no pós-operatório, comparada ao placebo.
Os pacientes que receberam corticóide não tiveram incidência maior de infecção ou outras complicações maiores, quando comparado com o placebo. Os autores concluem que o uso de corticóide pré-operatório reduziu a incidência de FA após cirurgia cardíaca.
Recall para desfibriladores Guidant.
Disponível em: http://www.fda.gov/cdrh/news/guidantrecall.html.
O FDA (Food and Drug Administration) anunciou que a Boston Scientific fez recall de 73.000 desfibriladores implantáveis, após identificar uma falha no capacitor do aparelho que pode fazer a bateria descarregar mais cedo que o previsto.
Os dispositivos são Contak Renewal 3 HE CRT-Ds (Modelos H177 e H179); Contak Renewal 3 CRT-Ds (Modelos H170 e H175); Vitality 2 DR ICDs (T165); Vitality 2 VR ICDs (T175); Vitality AVT ICDs (A155); Vitality DS DR ICDs (T125) e Vitality EL DR ICDs (T135).
A Boston Scientific anunciou que removeu todos os dispositivos deste lote dos distribuidores e hospitais.
História natural do aneurisma de aorta ascendente em pacientes com valva aórtica bicúspide.
Davies RR et al. Natural History of Ascending Aortic Aneurysms in the Setting of an Unreplaced Bicuspid Aortic Valve. Ann Thorac Surg 2007;83:1338-1344.
Pacientes com valva aórtica bicúspide estão sob risco de doença valvar e de aneurismas e dissecções da aorta ascendente.
Neste estudo foram identificados 514 pacientes (326 homens, 188 mulheres) com aneurisma de aorta ascendente não operados, seguidos de 1985 a 2005. Setenta pacientes com valva aórtica bicúspide formaram o grupo A, enquanto os restantes 445 paciente o grupo B. Crescimento do aneurisma e fatores de risco foram avaliados.
Pacientes do grupo A eram mais jovens quando da apresentação do aneurisma (49,0 vs 64,2 anos, p < 0,0001) e tiveram maior taxa de crescimento da aorta (0,19 vs 0,13 cm/ano, p = 0,0102). A incidência de ruptura e dissecção foi semelhantes nos dois grupos. Entre os pacientes com valva aórtica bicúspide, aqueles com estenose aórtica tiveram maior risco de ruptura, dissecção e morte do que os com valva com funcionamento normal.
Os autores concluem que o desenvolvimento de estenose aórtica em pacientes com valva aórtica bicúspide e aneurisma da aorta ascendente representa um significativo risco adicional. Apesar do ritmo mais acelerado de crescimento da aorta, pacientes com valva aórtica bicúspide tem incidências semelhantes de ruptura, dissecção e morte.
Associação entre forame oval patente e risco de acidente vascular cerebral embólico.
Di Tullio MR et al. Patent foramen ovale and the risk of ischemic stroke in a multiethnic population. J Am Coll Cardiol 2007;49:797-802.
Vários estudos anteriores tinham sugerido que o forame oval patente (FOP) poderia aumentar o risco de acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico, especialmente em pacientes jovens e sem outras explicações para o evento. O mecanismo aventado seria a embolia paradoxal, ou seja, a embolia para o sistema de circulação arterial de uma fonte da circulação venosa, tornada possível pelo shunt direita-esquerda através do FOP.
Entretanto, o risco de um primeiro evento em pacientes assintomáticos com FOP na população geral nunca foi bem estabelecido, já que aproximadamente 25% das pessoas têm FOP.
Neste estudo [parte do Northern Manhattan Study (NOMAS), um estudo epidemiológico que está avaliando a incidência, fatores de risco, e impacto clinico do AVC em uma população multi-étnica], o risco de AVC isquêmico com FOP foi avaliado numa população multi-étnica de 1.100 pessoas, em quem foram realizados ecocardiografia transtorácica com injeção de contraste para diagnóstico do FOP e aneurisma de septo interatrial.
A presença do FOP foi detectada em 164 pessoas (14,9%), aneurisma de septo interatrial em 27 pessoas (2,5%) e associação de ambos em 19.
Esses indivíduos foram seguidos por 79,7 ± 28,0 meses e a presença do FOP não foi significativamente associado com AVC isquêmico. A coexistência de FOP com aneurisma de septo interatrial não aumentou o risco de AVC. Isoladamente, o aneurisma de septo interatrial foi associado com aumento do índice de AVC.
Os autores sugerem que os resultados do presente estudo não discordam de estudos anteriores, onde o risco de AVC foi maior no grupo com FOP. Estes estudos anteriores podem ter incluído pacientes com maiores fatores de risco para aparecimento do AVC.
Portanto, a presença de FOP, só ou associado a aneurisma de septo interatrial, não foi associado com aumento do índice de AVC neste grupo multi-étnico. O papel independente do aneurisma de septo interatrial necessita estudos adicionais com desenho especifico para poder de análise.
Perfusão cerebral seletiva anterógrada na cirurgia da aorta torácica. Segurança da hipotermia moderada.
Pacini D et al. Antegrade selective cerebral perfusion in thoracic aorta surgery: safety of moderate hypothermia. Eur J Cardiothorac Surg 2007;31:618-622.
Embora haja evidência que a perfusão cerebral seletiva anterógrada (PCSA) seja o melhor método de proteção cerebral durante cirurgia do arco aórtico, ainda não há consenso sobre a temperatura ótima durante PCSA. Este estudo analisou os resultados de cirurgia aórtica usando diferentes níveis de hipotermia sistêmica em 305 pacientes, divididos em um grupo com hipotermia sistêmica moderada (grupo A, 189 pacientes, T 25 °C) e outro com hipotermia mais profunda (grupo B, 116 pacientes, T < 25 °C).
O tempo médio de PCSA não foi diferente entre os grupos (63 ± 37,7 min grupo A, 58,6 ± 35,6 min grupo B; p = 0,314), a mortalidade hospitalar foi semelhante nos dois grupos (12,7% no grupo A e 13,8% no grupo B; p = 0,862). Déficits neurológicos permanentes ocorreram com a mesma magnitude nos dois grupos (3,1% grupo A vs 1,7% grupo B; p = 0,715), assim como não houve diferença na ocorrência de disfunção neurológica temporária (7,9% grupo A vs 8,6% grupo B; p = 0,833).
Os autores concluem que PCSA é uma técnica segura para reparos complexos da aorta, não havendo diferença entre os dois grupos estudados, sugerindo que PCSA com hipotermia moderada (26 °C) parece ser segura e suficiente para proteção cerebral. Além disso, são evitados os efeitos deletérios da hipotermia profunda.
Cirurgia de revascularização miocárdica com e sem pinçamento aórtico. Análise comparada.
Mizutani S et al. On-Pump Beating-Heart Coronary Artery Bypass: A Propensity Matched Analysis. Ann Thorac Surg 2007;83:1368-1373.
Este estudo analisou a cirurgia de revascularização (RM) do miocárdio com circulação extracorpórea (CEC), comparando a técnica tradicional de pinçamento aórtico e cardioplegia contra a técnica do coração batendo em CEC. Foram 114 pacientes em cada grupo, a técnica do coração batendo em CEC reduziu o tempo de operação e de CEC, perda sangüínea e pico de CK-MB (p < 0,05). O numero de pacientes que necessitaram balão intra-aórtico foi menor no grupo coração batendo em CEC (2 vs 13, p < 0,01). A revascularização completa foi menor no grupo coração batendo em CEC (42.1% versus 77.2%, p < 0.0001), mas a mortalidade hospitalar foi também menor neste grupo (2.6% versus 9.6%, p < 0.05).
A conclusão foi que a técnica da RM com o coração batendo em CEC é segura, mesmo em pacientes de alto risco, e pode ser de maior beneficio para os pacientes hemodinamicamente instáveis.
Eficácia da classificação funcional de insuficiência cardíaca da New York Heart Association (NYHA) posta em dúvida.
Raphael C et al. Limitations of the New York Heart Association functional classification system and self-reported walking distances in chronic heart failure. Heart. 2007;93(4):476-82.
A classificação de insuficiência cardíaca da New York Heart Association (NYHA) é subjetiva e pouco reprodutível, com muita variação inter-observador, conforme o resultado deste estudo realizado na Inglaterra.
Os investigadores questionaram 30 cardiologistas e residentes em cardiologia sobre que perguntas eles usavam para determinar que classe funcional o paciente pertencia, e como eles distinguiam entre classe II e III. Dois cardiologistas examinavam o mesmo paciente no mesmo dia.
A avaliação atual de gravidade em insuficiência cardíaca inclui a pergunta de distancia que os pacientes podem andar sem ficar cansados. A distancia percorrida, embora freqüentemente perguntada, não tem correlação com capacidade de exercício, notaram os pesquisadores.
A investigação mostrou que diferentes perguntas e critérios foram usados para avaliar a classificação funcional da NYHA, com grande variação. Houve concordância da classe funcional em apenas 54% das avaliações comparadas.
Os autores concluem que a classificação da NYHA é pouco reprodutível e sugerem que artigos de pesquisa usando essa classificação devem mencionar os critérios e perguntas usadas na avaliação. Também sugerem que perguntas específicas podem aumentar a reprodutibilidade desse sistema de classificação.
Estatinas reduzem a pressão arterial.
Strazzullo P et al. Do statins reduce blood pressure?: a meta-analysis of randomized, controlled trials. Hypertension. 2007;49(4):792-8.
Esta meta-análise revelou que o uso de estatinas está associado a uma pequena, mas clinicamente importante redução da pressão arterial (tanto sistólica como diastólica, embora menor nesta última). Esse efeito não é relacionado à redução do colesterol.
A meta-análise foi realizada com 20 estudos controlados randomizados, que incluíram um total de 828 pacientes, e o efeito anti-hipertensivo das estatinas foi mais manifesto nos pacientes com níveis pressóricos mais elevados (PA sistólica > 130 mmHg). Nos pacientes com PA sistólica < 130 mmHg e/ou diastólica < 80 mmHG, a redução da PA não foi significativa.
Pouca correlação entre pressão arterial e mortalidade em pessoas acima de 80 anos.
Oates DJ et al. Blood pressure and survival in the oldest old. J Am Geriatr Soc. 2007 ;55(3):383-8.
Este estudo, realizado em 10 centros do VA (Veterans AFFAIRS), analisou a relação entre a pressão arterial e a mortalidade por todas as causas em 4.071indivíduos hipertensos com idade igual ou superior a 80 anos, com seguimento de 5 anos.
Indivíduos com PA mais alta (considerada como uma PA sistólica de até 139 mmHg e uma PA diastólica de 89 mmHg) foram menos propensos de falecer durante o seguimento que indivíduos com PA menores.
Não houve também associação significativa entre sobrevida e níveis de PA em indivíduos com hipertensão não-controlada.
Os autores concluem que em indivíduos muito idosos e hipertensos controlados, aqueles com PA mais baixa têm menor sobrevida em 5 anos do que aqueles com PA maiores. Sugerem que os clínicos sejam cautelosos na sua abordagem de redução da PA neste grupo etário.
Impacto da transfusão de sangue em pacientes com anemia e síndrome coronariana aguda.
Singla I et al. Impact of Blood Transfusions in Patients Presenting With Anemia and Suspected Acute Coronary Syndrome. Am J Cardiol. 2007;99(8):1119-21.
Tem sido demonstrado que anemia é um preditor adverso de eventos cardíacos em pacientes com síndrome coronariana aguda e infarto agudo do miocárdio (IAM) sem elevação de ST. Entretanto, pouco se sabe sobre o valor da transfusão sangüínea nessa condição. Este estudo avaliou o impacto da transfusão de concentrado de glóbulos nos resultados tardios.
A transfusão de sangue em pacientes anêmicos internados com suspeita de síndrome coronariana aguda/IAM determinou significativo aumento de mortalidade ou recorrência do IAM em 30 dias (odds ratio 3,05; intervalo de confiança 95% 1,80 a 5,17; p<0,001).
Esta relação permaneceu após ajuste para preditores univariáveis significantes, como hipotensão na apresentação, edema pulmonar e aumento de troponina.
Em conclusão, o risco versus o benefício de transfusão sangüínea em pacientes com síndrome coronariana aguda necessita melhor esclarecimento e estudos posteriores devem ser planejados.
Chocolate é bom para a pressão arterial, chá pode não ser.
Taubert D et al. Effect of cocoa and tea intake on blood pressure: a meta-analysis. Arch Intern Med. 2007;167(7):626-34.
Esta meta-análise sugere que o consumo de derivados do cacau (chocolate) reduz a pressão arterial (PA), enquanto o chá não tem efeito nenhum.
Foram analisados cinco estudos randomizados controlados de consumo de chocolate incluindo 173 participantes, e cinco estudos de consumo de chá incluindo 343 participantes.
Os autores relatam que a magnitude do efeito hipotensor do chocolate é clinicamente relevante, comparável aquele obtido por monoterapia anti-hipertensiva. Pelo menos parte desse efeito que o chocolate tem na PA é devido aos polifenóis (flavonóides) que eles contem.
Os autores concluem que o consumo de chocolate pode reduzir a PA, enquanto o chá não tem efeito. O chocolate poderia fazer parte da abordagem dietética para diminuir risco cardiovascular.